
Foto: Larissa Durães
A inclusão de minorias étnicas e sexuais no mercado de trabalho foi o tema central do Café Sindical, realizado na manhã desta terça-feira, 10 de junho, no auditório do Sindicato dos Comerciários de Montes Claros e Região. O evento reuniu representantes do poder público, movimentos sociais, sindicatos, entidades de classe e trabalhadores para discutir políticas e ações voltadas à promoção da equidade no ambiente profissional.
Organizado pelo Sindcomerciários, com apoio do Sindcomércio e do Movimento Gay dos Gerais (MGG), o encontro destacou os desafios enfrentados por pessoas negras, indígenas e LGBTQIAPN+, reafirmando a urgência de criar oportunidades igualitárias para essas populações historicamente marginalizadas.
Durante o evento, o secretário municipal de Aceleração Econômica, Glenn Andrade, afirmou que a atual gestão tem atuado de forma incisiva para garantir um ambiente mais justo e acessível para todos. “A gestão do prefeito Guilherme Guimarães tem travado uma luta constante para que possamos trabalhar com igualdade de condições em Montes Claros”, declarou. Andrade destacou o diálogo contínuo com sindicatos e entidades patronais como ferramenta para fortalecer políticas de inclusão e combater o preconceito. “Nada é mais doloroso do que procurar emprego e sentir na pele o preconceito velado, o ‘não’, o ‘deixa para depois’, apenas por uma questão de escolha ou identidade”, pontuou.
Entre as ações em andamento, o secretário mencionou parcerias com o SESC e outras secretarias, como a de Desenvolvimento Social, comandada por Celeste Froes, voltadas ao atendimento de populações em situação de vulnerabilidade. Uma das medidas envolve a distribuição de alimentos mediante cadastro simples, além da oferta de cursos gratuitos de qualificação profissional pelo SENAC. “A formação leva em conta critérios como qualificação, competência e habilidades essenciais para que essas pessoas possam se desenvolver e conquistar melhores oportunidades”, finalizou Glenn Andrade.
O prefeito Guilherme Guimarães também esteve presente e reforçou o compromisso da administração municipal com a inclusão plena. “Todas as pessoas de Montes Claros merecem ter respeito e dignidade. Temos que identificar as fragilidades, sobretudo no acesso aos postos de trabalho, e garantir locais adequados para evitar qualquer tipo de preconceito e violência contra qualquer pessoa”, afirmou.
Guimarães destacou ainda que a cidade conta com legislação específica para coibir o assédio e o preconceito por orientação sexual, raça ou qualquer outro critério discriminatório. Ele citou o trabalho do Conselho da Diversidade e as ações desenvolvidas na Casa da Cidadania, como palestras, conferências e construção de políticas públicas. “Estamos atentos a qualquer tipo de crime ou perseguição que possa ocorrer nas ruas. O Programa Guardiã dos Montes é um exemplo de nossa atuação direta nesse sentido”, acrescentou.
O prefeito também ressaltou a importância da atuação dos Conselhos Tutelares na proteção de crianças e adolescentes e se posicionou favorável à implementação de cotas em concursos, respeitando as legislações federal e estadual. “A cidade tem que ser da inclusão. No desenvolvimento cabe todo mundo, e não é a orientação que pode ser um impedimento”, concluiu.
Para o presidente do Movimento LGBTQ+ dos Gerais (MGG), José Cândido Filho, o Candinho, o momento é histórico. “Essa é uma das principais lutas do MGG e de outros coletivos. O Movimento LGBTQIA+ é uma organização civil que trabalha há 21 anos de forma voluntária em favor da nossa população. Nos últimos anos, com o apoio da gestão municipal, temos conseguido avanços extraordinários”, afirmou.
Candinho mencionou a criação do Ambulatório Trans, já em funcionamento, e a realização da primeira Conferência Municipal dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, em abril deste ano, como marcos importantes. Também chamou atenção para os altos índices de evasão escolar entre pessoas LGBTQIA+ e para dados alarmantes da UFMG que revelam que 91% das pessoas trans estão na prostituição por falta de oportunidades. “As pessoas LGBTQIA+ são profissionais capazes. Precisam apenas de uma chance. Muitas vezes, na hora da entrevista, são reprovadas por puro preconceito”, disse. “Peço de coração, com todo amor: vamos amar ao próximo como a nós mesmos, dando uma oportunidade de trabalho e dignidade.”
Um dos momentos mais esperados da programação foi a palestra do procurador do Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais, Dr. Geraldo Emediato, que abordou o tema: “Incentivo, Capacitação e Inclusão de Trabalhadores(as) pertencentes às Minorias Étnicas no Mercado de Trabalho”. Emediato alertou sobre os ataques aos direitos sociais e a necessidade urgente de fortalecer os coletivos que protegem trabalhadores e minorias. “É preciso empoderar os coletivos que protegem essas populações e fortalecer os sindicatos que podem contribuir com a inclusão”, defendeu.
O procurador destacou dois projetos prioritários do MPT: a repressão a práticas antissindicais e o projeto Sindicalismo e Diversidade, que visa promover a inclusão de pessoas negras, indígenas, LGBTQIA+ e com deficiência, inclusive dentro dos próprios sindicatos. “Estamos buscando alternativas para que pessoas trans, por exemplo, possam atuar em outros setores além da prostituição. É necessário propiciar uma verdadeira igualdade de gênero”, afirmou.
Para Emediato, a educação é a principal ferramenta contra o preconceito. “Temos que mudar esse modo de enxergar e tratar com naturalidade as minorias. Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. Não basta não ser homofóbico, é preciso ser anti-homofóbico. Isso exige atitude.”
Citando o autor Vincent Hall, Emediato lembrou que os direitos constitucionais só se efetivam quando há mudanças culturais. “Os direitos estão esculpidos na Constituição, mas só serão efetivos quando tivermos uma sociedade preparada para respeitá-los.”
O Café Sindical se consolidou, assim, como um espaço democrático e essencial para debater caminhos que levem a um mercado de trabalho mais inclusivo e igualitário, reafirmando a importância de ações conjuntas para combater as desigualdades e ampliar oportunidades para todos.